Numa era cada vez mais tecnológica pode existir uma preocupação, quase inconsciente, por parte dos profissionais de RH que é comum a muitos outros setores: a de que a sua função possa tornar-se obsoleta, resultado do papel preponderante que a tecnologia tem vindo a assumir no dia-a-dia.
Sem dúvida que as transformações digitais estão a alterar o mercado, não obstante, acredito que tecnologia é unicamente um benefício! Quer para os próprios recrutadores, quer para os candidatos, e não deve ser olhada com apreensão. Isto porque é certo que o recrutamento necessita sempre da capacidade humana e os avanços digitais terão como objetivo aprimorar a experiência do candidato, mas não a intenção de substituir a interação pessoal.
E também não o conseguiria de forma completa porque há capacidades humanas insubstituíveis.
Destaco o pensamento crítico. Apesar da tecnologia conseguir fazer o match entre determinadas características e cruzá-las com outras variáveis existe sempre um pensamento crítico que só o ser humano consegue aportar.
No recrutamento isto é claro na identificação de profissionais enquadrados com as características de oportunidades de emprego que são muito mais que factuais e carecem de uma avaliação pessoal. O processo depende de um conhecimento mais abrangente sobre o candidato, aspetos como a ética profissional, as suas motivações, os seus objetivos e as ambições que implicam uma avaliação das soft skills.
Num exemplo muito prático, como é que a tecnologia avalia a capacidade de liderança?
A realização de questões concretas, de forma personalizada para validar competências, que são analisadas considerando a sua contextualização, torna-se um elemento fundamental para a tomada de decisão. E só o ser humano tem esta capacidade de aglomerar um conjunto de ferramentas que lhe permitem individualizar uma avaliação, atingindo um nível de detalhe que não é possível através da tecnologia. Por outro lado, a capacidade de ouvir, de utilizar a inteligência emocional, de sentir empatia, que advêm de uma relação interpessoal são características muito particulares.
Mas continuamos a precisar de nos adaptar!
Apesar das características que nos distinguem, a necessidade de adaptação continua a ser uma realidade. E esta capacidade de pertencermos a um futuro cada vez mais digital está dependente da vontade de cada um de nós em desenvolver as skills necessárias para nos “atualizarmos” e desta forma assegurarmos o enquadramento do nosso potencial.
Todas as indústrias precisam de se adaptar às novas exigências do mercado e, neste sentido, a área do recrutamento e seleção não é uma exceção. Grande parte do setor está já baseado em plataformas com vista à centralização da atividade com o intuito de melhorar a eficiência e eficácia, assim como a produtividade e o próprio negócio.
E como é que a tecnologia auxilia o recrutamento e seleção?
Atualmente recorremos a softwares que facilitam a gestão de todo o processo de recrutamento concentrando-o num único local ao longo de todo o processo de recrutamento, seleção e acompanhamento do Candidato. Hoje a experiência diz-nos que quanto mais tecnologia estiver à nossa disposição no recrutamento, menos tempo alocamos à gestão de processos e assim ganhamos disponibilidade para investir na colocação de candidatos. É neste tempo que conseguimos orientar-nos para a criação de relações tanto com os candidatos, como com os próprios parceiros. Relação essa que as máquinas ainda estão longe de conseguir substituir. E este foco e a orientação para os candidatos permitem-nos um acompanhamento diferenciador ao longo de todo o processo.
Para acompanhar esta mudança é necessário concentrarmo-nos nas qualidades que nos são únicas e não podem ser substituídas pela tecnologia. Isto ajudará o recrutador a permanecer relevante em todas as fases do processo de recrutamento e seleção. Ninguém sabe o que o futuro nos reserva, mas percebemos que o mundo do trabalho está a mudar e novas estratégias de adaptação são necessárias. Certamente não iremos voltar a metodologias de caneta e papel, seguramente a tecnologia continuará a ser usada para acelerar o processo de recrutamento, mas nunca substituirá as relações humanas que são fundamentais para a promoção de uma experiência de emprego positiva.